inFlorescências

 

Sobre flores, vidros, sombras e arte contemporânea
Anotações em torno da obra recente de Patrícia Bagniewski

Flor simboliza muita coisa. Vidro é matéria transparente. Sombra é um
desdobrar da luz. Transformar a matéria em símbolo, talvez seja uma das
funções da arte. A obra recente de Patrícia Bagniewski aponta para essa
questão em aberto. A série é composta por flores de vidro e suas
projeções de sombra. Trata-se de uma instalação, a interação desses
elementos cria possibilidades de imersão para vivências de encantamento
e delicadeza.
As flores inventadas, esculturas transparentes de existências imaginárias,
banhadas por uma luz específica, se desdobram em sombras, universos
paralelos da anamorfose. O vidro de laboratório é manipulado a partir do
calor, num engenho alquímico, numa oficina pós-moderna onde é possível
dar forma ao que não tem. Manipulado em altas temperaturas, se funde,
se molda e se deixa colorir. A partir de uma matriz já dada, a beleza
natural, a matéria é transmutada. A arte articula a junção da vida
cotidiana com uma ordem imaginária extraordinária.
Símbolo de passividade, a flor representa, por um lado, desenvolvimento,
perfeição e consciência; por outro, aponta para a noção de alegoria,
efemeridade e transitoriedade. O vidro, ao nos deixar ver através, por sua
transparência, captura a visão. A vista descansa sobre o fluxo de um
atravessamento. O olhar atravessa o que se pode ver e encontra as
sombras deformadas em exercícios fluidos de uma dança cósmica. A
sombra faz parte da vida, revela uma parcela apartada, desdobrada, de
uma presença fugidia. O que é, é o que se pode ver. Assim, a arte
contemporânea se apresenta como um campo de proposições
significativas, onde a fruição cria uma noção de mundo.

Carlos Silva
Brasília, julho de 2019

 

       

 Flores em vidro borosilicato moldados em técnica lampworking. Apresentada na Feira MADE pela Galeria Arte Hall, Sāo Paulo, 2019.

 

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